Era uma vez, no princípio dos tempos, uma humanidade que carregava dentro de si o poder dos deuses. Cada homem e cada mulher eram divinos, possuíam a sabedoria dos céus, a força dos oceanos e a luz das estrelas. Mas, como tantas histórias nos ensinam, o poder sem consciência leva ao desequilíbrio. E foi exatamente isso que aconteceu.
Diz a antiga lenda hindu que os humanos começaram a abusar de sua divindade, usando-a para propósitos egoístas, desrespeitando a harmonia da criação. Os deuses, preocupados, buscaram Brahma, o Criador, e pediram que ele tomasse a divindade dos homens e a escondesse em um lugar onde eles não pudessem mais encontrá-la.
"Escondê-la onde?", perguntaram os deuses.
"Vamos enterrá-la nas profundezas da terra", sugeriu um.
"Não adianta", respondeu Brahma. "Eles cavarão e acabarão encontrando."
"Então, que seja nas profundezas do oceano", disse outro.
"Não funcionará", disse Brahma. "Eles aprenderão a mergulhar e irão resgatá-la."
"Podemos escondê-la no topo da montanha mais alta", sugeriu um terceiro.
Brahma sorriu e respondeu: "Eles um dia alcançarão até os picos mais altos e recuperarão o que perderam."
Foi então que, depois de refletir, Brahma disse: "Esconderei a divindade deles dentro deles mesmos. Será o último lugar onde pensarão em procurar."
E assim foi feito. Desde então, os humanos passaram a vagar pelo mundo, explorando terras, desbravando oceanos, escalando montanhas e até buscando no espaço o que sempre esteve dentro deles. A centelha divina, a essência da criação, a sabedoria ancestral... tudo isso repousa no mais íntimo do nosso ser, esperando ser redescoberto.
Talvez essa seja a maior lição dessa lenda: não há nada fora que já não esteja dentro.
Passamos a vida buscando respostas, correndo atrás de reconhecimento, validação e significado, sem perceber que tudo o que procuramos está, desde sempre, bem aqui — no nosso coração, na nossa presença, na nossa essência.
A pergunta é: você já começou a escavar para dentro?

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