Cinquenta e um

Às vezes, a vida pede pausa.

Não é ausência.

É aquele espaço invisível entre o que termina e o que ainda não começou, quando a alma precisa repousar para que tudo encontre o seu lugar.

Foi nesse intervalo que me percebi: já tinham se passado 51 dias desde que voltei ao Brasil. Um silêncio que foi travessia. Porque certas mudanças não se contam em malas ou quilômetros, mas no tempo que levamos para permitir que algo novo brote dentro da gente.

E esse silêncio coincidiu com um movimento maior, coletivo: um ciclo que começa trazendo ordem e logo transborda em revelação. Um momento para olhar para nossas sombras e reconhecer a névoa que, às vezes, envolve nossa racionalidade. Pois quando perdemos a clareza, a tentação é controlar tudo — como se fosse possível pôr em nossas mãos o funcionamento grandioso do cosmos.

Mas a vida não é controle. A vida é confiança. É subir degrau a degrau de uma escada que não revela o topo de imediato, mas garante que cada passo tem o seu tempo. Não é um salto épico, é um caminho paciente, onde a criança interior pode confiar e a mãe arquetípica que habita em nós oferece sustento e cuidado.

Esse tempo de silêncio me mostrou que a perfeição não está em nunca falhar, mas em seguir caminhando, mesmo com a sombra a tiracolo. Está em respirar fundo e aceitar que há uma ordem maior nos conduzindo. Como se cada inspiração fosse uma mão invisível me lembrando: “não estás só.”

Talvez esses 51 dias tenham sido exatamente isso: uma pausa para que a sombra se dissolvesse e desse espaço ao novo. Um tempo para reconhecer que crescer não é correr, é subir degrau a degrau, sustentada pela confiança de que há sempre uma mão maior guiando o caminho.

E você? Se parasse hoje para olhar os seus últimos 51 dias, que degrau estaria pisando? Que sombra precisaria entregar, e que nova vida estaria pronta para nascer?